
Morador de Boston, nos Estados Unidos, com 28 anos de idade, ele afirma que n�o tem nada contra esse tipo de mulher, mas n�o est� necessariamente interessado nelas. Ele sabe que existe todo tipo de pessoa no mundo com quem ele poderia ter um relacionamento amoroso.
Essa repeti��o o est� desgastando, mas o aplicativo de namoros Hinge continua recomendando pessoas com o mesmo padr�o. "[O Hinge] agrada a um padr�o e oferece esse padr�o a voc�", afirma Hong.
Essa experi�ncia deixou Hong com o que ele chama de "cansa�o para decidir" — e que outras pessoas chamam de "burnout dos aplicativos de relacionamento". Esse fen�meno � comum no mundo do namoro pelos aplicativos.
As pessoas se cansam de rolar a tela sem fim em busca de poss�veis pares dispon�veis nos aplicativos. Muitos usu�rios se frustram com o tempo que passam procurando online, em compara��o com o tempo que eles passam em encontros reais.
"Puramente do ponto de vista dos n�meros, de cada 10 pessoas hipot�ticas apresentadas pelo aplicativo, voc� provavelmente ter� uma conversa estabelecida com sete ou oito", afirma Hong. "Dessas sete ou oito, voc� poder� filtrar uma ou duas [para encontros presenciais]."
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Mas, atualmente, as pessoas solteiras dificilmente deixam de entrar no mundo dos namoros online — mesmo que muitos saibam que � uma busca dif�cil e possivelmente decepcionante.
Um estudo de 2019 mostrou que o namoro online tornou-se uma forma muito mais prov�vel de conhecer um parceiro que um encontro casual. Mas o pre�o ainda pode ser alto: uma pesquisa recente do aplicativo brit�nico de relacionamento Badoo demonstrou que mais de tr�s quartos dos solteiros sentiram-se esgotados pelas intera��es insatisfat�rias e pares inadequados oferecidos pelas plataformas e aplicativos.
Uma pesquisa do aplicativo Hinge tamb�m concluiu que uma parcela significativa dos seus usu�rios (61%) sentiu-se sobrecarregada com o processo moderno de namoro e, em abril de 2022, um estudo norte-americano demonstrou que quatro em cada cinco adultos "sentiram algum grau de cansa�o emocional ou burnout com o namoro online".
Ainda assim, as pessoas continuam usando os aplicativos de relacionamento para encontrar poss�veis parceiros. Parece que, independentemente das experi�ncias ruins, esses aplicativos continuam sendo uma das formas mais f�ceis de conhecer pessoas para encontros rom�nticos em um mundo que est� mudando cada vez mais para as plataformas online. Mas, quando as pessoas permanecem nesses aplicativos para encontrar seus pares, existem formas de suavizar essa tarefa?

'� muita coisa para pesquisar'
O burnout dos aplicativos de relacionamento � definido como a exaust�o decorrente do seu uso prolongado, segundo Nora Padison, conselheira profissional licenciada da Space Between Counseling Services, de Baltimore, nos Estados Unidos.
Existem alguns sinais b�sicos dessa exaust�o: o usu�rio associa sentimentos negativos ao ato de abrir os aplicativos de relacionamento; o uso do aplicativo e o processo de namoro decorrente o deixam cansado; e parece um "segundo emprego", segundo Padison, que coordena dois "grupos de apoio para o namoro moderno", para adultos com 25 a 35 anos de idade.
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Segundo as pesquisas de Leah LeFebvre, professora de estudos de comunica��o da Universidade do Alabama, nos Estados Unidos, mais da metade dos 395 usu�rios do Tinder pesquisados por ela em 2017 havia apagado o aplicativo mais de uma vez.
Em cerca de 40% dos casos, a exclus�o aconteceu porque o usu�rio havia iniciado um relacionamento. Mas 35% dos participantes afirmaram que se livraram do aplicativo porque "se sentiam mal sucedidos". Ou seja, eles "n�o receberam respostas, n�o formaram pares, n�o encontraram poss�veis parceiros ou tiveram experi�ncias negativas", segundo declarou LeFebvre por e-mail � BBC.
Alguns dos pesquisados simplesmente ficaram "aborrecidos" ou "cansados" de usar o aplicativo; outros o acharam "in�til". Todos estes s�o sinais de burnout do aplicativo de relacionamento.
"�s vezes fico esgotada quando sinto que preciso pesquisar literalmente 100 pessoas para encontrar algu�m que eu acho que seja razoavelmente interessante, ou com quem talvez quisesse conversar", afirma Rosemary Guiser, fonoaudi�loga da Filad�lfia, nos Estados Unidos, com 32 anos de idade. "Parece que � muita coisa para pesquisar."
Guiser come�ou a usar aplicativos como Bumble e Hinge quando terminou um relacionamento, em janeiro de 2022. Mas sua primeira experi�ncia com aplicativos de relacionamento foi em 2013 e 2014, com OkCupid e o Tinder. Ela afirma que come�ava a se sentir esgotada com os aplicativos quase "imediatamente depois de abri-los".
"O processo de conversar com algu�m, planejar um encontro e depois encontr�-los - � muito tempo e trabalho", afirma Guise, acrescentando que n�o gosta de conversar nos aplicativos porque as conversas por texto n�o oferecem uma vis�o real da outra pessoa.
"Voc� pode ter uma �tima conversa, mas a� voc� encontra a pessoa e, em 10 segundos, percebe que n�o � algu�m que voc� gostaria de conhecer", ela conta - e isso representa perda de tempo. E pode tamb�m ser uma grande decep��o emocional perceber que a pessoa que parecia ser um �timo par online, na verdade, n�o existe na vida real.
Quest�es de design e de comportamento
O design dos aplicativos de relacionamento tamb�m pode ser motivo de frustra��o para os usu�rios esgotados. Guiser, por exemplo, cansou-se de encontrar fun��es pagas que teriam melhorado sua experi�ncia nos aplicativos, mas pelas quais preferiu n�o pagar.
A primeira coisa que ela olha em um poss�vel parceiro, por exemplo, s�o as suas convic��es pol�ticas. Mas ela conta que, no aplicativo Bumble, � preciso pagar para filtrar pessoas com base nessas caracter�sticas. E, como ela n�o paga, � "for�ada a pesquisar dezenas e dezenas de pessoas que eu n�o gostaria de ver de novo".
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Tamb�m � trabalhoso navegar por diversos aplicativos de relacionamento ao mesmo tempo, mas muitas pessoas usam mais de um aplicativo porque acham que isso aumenta a possibilidade de encontrar um par.
Saltar de uma interface para outra pode causar problemas. "Eu me acostumo com a interface de um aplicativo, depois vou para o outro e a� acontece: 'opa, acabei de excluir algu�m que eu queria curtir' ou 'acabei de curtir algu�m, mas queria apenas ver as fotos'", afirma Guiser.

E existe o desafio de interagir com os pares. Essa parte do processo abre todo um novo conjunto de experi�ncias desanimadoras, pois muitos t�m a tend�ncia de comportar-se de forma desrespeitosa durante os encontros online.
Uma pesquisa da plataforma de relacionamentos Plenty of Fish realizada em 2016, por exemplo, concluiu que, de 800 participantes da gera��o millennial, 80% sofreram ghosting (seus pares desapareceram sem deixar rastros) durante o processo.
Com a tela para mediar as intera��es entre as pessoas, � mais f�cil que algu�m deixe de ver a pessoa com quem est� se comunicando como um ser humano - elas se tornam quase que personagens de um jogo de namoro online. Assim, fica mais f�cil n�o trat�-las de forma humana.
As mulheres, particularmente, enfrentam a maior parte do ass�dio nos aplicativos de relacionamento. Dentre as mulheres usu�rias com menos de 35 anos de idade, 44% relataram terem sido chamadas por nomes ofensivos, enquanto 19% enfrentaram amea�as de les�es f�sicas em sites e aplicativos de namoro, segundo pesquisa do think tank (centro de pesquisa e debates) americano Pew Research Center.
A pesquisadora e escritora australiana especializada em bem-estar digital Joanne Orlando acredita que "as pessoas brincam online com cada vez mais frequ�ncia" - ou seja, nem todas as pessoas que usam aplicativos de relacionamento est�o ali sinceramente para encontrar um par.
Mas at� aqueles que s�o sinceros podem ser cru�is com outros usu�rios, seja intencionalmente ou porque � dif�cil tratar a todos com n�veis de humanidade iguais e adequados. A repeti��o do tratamento negativo online pode contribuir para a sensa��o de negatividade e burnout das pessoas com rela��o a esses aplicativos.
Ficar ou sair?
Mas, independentemente do esgotamento, muitas pessoas, como Andy Hong, permanecem nos aplicativos. "Voc� pode comparar um pouco [os aplicativos de relacionamento] com a Amazon ou o Facebook", segundo Nora Padison, "porque s�o t�o acess�veis que acabaram tornando padr�o" usar os aplicativos de relacionamento em vez de encontrar pessoas de outras formas - mesmo para usu�rios que n�o gostam das plataformas. E a pandemia de covid-19, segundo ela, tamb�m habituou as pessoas �s intera��es online e fez com que muitos sentissem a necessidade de selecionar seus pares antes de encontr�-los na vida real.
Tamb�m n�o � t�o f�cil conhecer parceiros rom�nticos em espa�os f�sicos, especialmente para quem n�o � do tipo de frequentar bares. Padison sugere procurar atividades em grupos para poder conhecer pessoas com interesses comuns, mas isso nem sempre funciona. Hong, por exemplo, conta que participou de um jardim comunit�rio, mas "sou a pessoa mais jovem ali, com diferen�a de d�cadas... n�o � assim que vou conhecer algu�m".
Em vez disso, ele est� criando formas de usar com mais efici�ncia os aplicativos de relacionamento. "Vou procurar marcando em vermelho", ele conta - a ideia � aprender a selecionar rapidamente aspectos no perfil de uma pessoa que indicam se ela � ou n�o a escolha certa para ele.
Mas isso tamb�m pode ser cansativo. "Nesse julgamento eterno, voc� est� fugindo de armadilhas e isso esgota mentalmente", afirma ele.
A especialista em relacionamentos do aplicativo Bumble Carolina West sugere lidar com os aplicativos de relacionamento de forma mais objetiva. "A maioria das pessoas no Bumble conta que agora discute primeiro com seus parceiros o que eles querem", afirma ela.
West recomenda que os usu�rios se limitem a conectar-se com dois ou tr�s poss�veis pares de cada vez, concentrando-se na qualidade e n�o na quantidade. O Bumble tamb�m tem uma fun��o que permite aos usu�rios esgotados interromper suas atividades para que possam fazer um intervalo, alertando aos pares que est�o "em repouso".
Para algumas pessoas, uma pausa na busca por um relacionamento � exatamente o que elas precisam. Padison afirma que orientou alguns clientes que enfrentam o burnout dos aplicativos de relacionamento a excluir todos eles e usar o tempo para trabalhar a si pr�prios.
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Rosemary Guiser parou de usar os aplicativos de relacionamento porque est� vendo uma pessoa. N�o � um relacionamento exclusivo e ela poderia continuar buscando outros parceiros nos aplicativos. Mas ela gostou da oportunidade de fazer uma pausa.
Afinal, quando estava usando os aplicativos, Guiser ficou presa em uma linha de pensamento t�xica de "nunca vou encontrar ningu�m se n�o usar esses aplicativos de forma muito ostensiva". Isso acabou fazendo com que ela se sentisse mal consigo mesma e com a experi�ncia.
Ela precisou aprender estrat�gias de sobreviv�ncia para evitar que as experi�ncias de namoro a desanimassem, como fazer certas perguntas a si pr�pria para garantir que ela se sentia bem antes de fazer um swipe (deslizar a foto de um pretendente para curti-lo ou n�o).
"Estou gostando disso? Ou estou fazendo s� porque estou sozinha e me sentindo triste?", eram algumas das perguntas. "Eu tentava descobrir se estava rolando a tela de forma pessimista, olhando para as pessoas e ficando apenas desanimada." Infelizmente, esse pessimismo era mais frequente que as experi�ncias positivas nos aplicativos. Foi quando Guiser aprendeu a desligar o telefone.
- Este texto foi publicado em http://bbc.co.uk/portuguese/geral-61989464
Leia a vers�o original desta reportagem (em ingl�s) na se��o Lovelife do site BBC Worklife.
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