
O Sol se esconde no horizonte e deixa um rastro dourado na Lagoa Central, em Lagoa Santa. Um casal de noivos se posiciona diante do fot�grafo para o registro perfeito no local – no antigo Iate Clube da cidade – enquanto ao fundo, o espet�culo da natureza faz sua pintura di�ria, gratuita e silenciosa, diante dos olhos de todos. Na cidade onde o Sol impera do nascer ao poente, o turismo de contempla��o faz da cidade do Vetor Norte, localizada a apenas 40 quil�metros de Belo Horizonte, um destino para quem precisa de “cura”. Se no passado as �guas ‘santas’ da lagoa deram o nome ao local, mais que correto dizer, que nos dias atuais, apreciar o fim de tarde � reconfortante como al�vio ao estresse e controle da ansiedade. Sim, o sagrado mora, vive, se alimenta e se diverte em Lagoa Santa.


� fato que a Lagoa Central � o cart�o de visitas de Lagoa Santa. Ao longo dos 6,3 quil�metros de orla, dezenas de atrativos circundam o entorno dela. Lugares, digamos, instagram�veis que oferecem aos milhares de visitantes paisagens bel�ssimas, enquanto caminham, fazem corrida ou andam de bike. � poss�vel se deparar com o premiado atleta ol�mpico da canoagem Isaquias Queiroz e equipe treinando no local. Al�m � claro, da apari��o do mascote Alfredo – o famoso jacar� que continua cada dia mais gordo e tranquilo, em seus rol�s na orla.
E olha que as op��es de registrar com boas imagens as paisagens ao redor s�o muitas: seja l� no Iate antigo, seja no horto do florestal, seja na Pra�a do Piquenique Liter�rio, seja no p�er em frente � Pra�a Felipe Rodrigues (com cerca de 30 metros, que adentra sobre �guas da lagoa), seja no deck em frente aos bares, seja nas dezenas de empreendimentos comerciais como o local onde foi instalada uma r�plica da Torre Eiffel, que, constru�da no local como atrativo tur�stico, cumpriu seu prop�sito e atraiu centenas de visitantes s� nesse fim de semana.

Mas a lagoa, com seu bel�ssimo espelho d’�gua, n�o � o �nico motivo para visitar Lagoa Santa, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Muito se ouviu dizer que a cidade era apenas passagem para a Serra do Cip�. Que n�o tinha atrativos tur�sticos e que n�o oferecia nada de lazer aos visitantes. Ledo engano. De acordo com a Secretaria de Bem Estar de Lagoa Santa s�o nove Rotas que oferecem diversos atrativos tur�sticos na cidade. Existem outros atrativos como a deliciosa e saborosa Rota das Doceiras, o encanto de paz no Caminho do Fidalgo, al�m de novos atrativos como o Mercad�o Internacional e a buc�lica Lagoa dos Olhos d'�gua.
Rota Lund

A via MG-010, que corta ao meio a cidade, deu sinal de colapso no �ltimo carnaval com milhares de turistas procurando o destino de cachoeiras como rota de fuga da folia que reuniu 5 milh�es de pessoas nas ruas de Belo Horizonte. Mal sabiam eles, que no meio do caminho, um desvio poderia lev�-los a um dos destinos mais importantes para a hist�ria da paleontologia e que projetou a cidade mineira internacionalmente - a hist�rica Gruta da Lapinha, descoberta pelo pesquisador dinarmaqu�s Peter Lund, em 1834.
“O futuro de Lagoa Santa est� escondido no passado, � preciso vasculhar as profundezas e reencontrar o que temos de melhor: hist�ria”. Assim, define o publicit�rio aposentado Fernando Virg�lio de Castro, 88 anos, morador h� mais de 70 na cidade mineira, que desabafa sobre o legado deixado pelo Dr. Lund. “Temos uma riqueza hist�rica debaixo de nossos olhos, precisamos valorizar e melhorar a divulga��o do Circuito das Grutas", comentou.
Fernando relembra tamb�m, com nostalgia, os tempos em que Lagoa Santa era destino de veraneio para os moradores de Belo Horizonte, entre os anos de 1940 e 1970. Ao longo da orla, cada casa tinha seu trampolim pr�prio sobre as �guas. “No passado, podia-se nadar e, literalmente tomar banho, nessas �guas, que eram limpas. Lembro at� da praia que fizeram aqui. Vinham caravanas de �nibus da capital e de cidades da regi�o para curtir a praia artificial. Apesar da sensa��o, o assoreamento n�o foi uma boa ideia. Bons tempos que n�o voltam mais”, finaliza
O passado revisitado

O naturalista dinarmaqu�s Peter Wilhelm Lund (1801 -1880) � respeitado e conhecido como pai da paleontologia brasileira. Em 1833 ele se mudou para Lagoa Santa e, em suas explora��es cient�ficas na regi�o, descobriu a Gruta da Lapinha, em 1835. Relatos hist�ricos dizem que o naturalista ficou deslumbrado com a descoberta. Nas cavernas da regi�o, Dr. Lund descobriu mais de 12 mil pe�as f�sseis que permitiram escrever a hist�ria do per�odo pleistoceno brasileiro – o mais recente na escala geol�gica – numa �poca em que o passado paleontol�gico era quase desconhecido pela ci�ncia.

Os estudos de Lund foram pioneiros e sem d�vida contribu�ram de forma significativa para diversas �reas do conhecimento, como a Paleontologia, Espeleologia, Arqueologia e Antropologia. Suas pesquisas e an�lises tamb�m foram de enorme import�ncia para a Teoria de Evolu��o das Esp�cies, publicada em 1859 por Charles Darwin.
O naturalista passou praticamente a vida toda na cidade mineira e veio a falecer em 25 de maio de 1880. Hoje, o t�mulo do Dr. Lund se encontra em um terreno escolhido por ele como a �ltima morada. Como n�o era cat�lico, conforme as normas da �poca, n�o poderia ser enterrado no cemit�rio. Antes de morrer, Peter Lund plantou um pequizeiro no local. E, sob a �rvore t�pica do cerrado, est� seu t�mulo e dos amigos e colaboradores de pesquisa.

Em uma das descobertas feitas por Dr. Lund, foi a constata��o de que humanos e animais de grande porte conviveram em uma mesma �poca, por volta de 12 mil anos atr�s. Uma r�plica de uma pregui�a gigante, com quase 4 metros de altura, apesar do tamanho est� “escondida” em um local improv�vel na cidade – a rodovi�ria de Lagoa Santa. Sem placa ou indicativo do que se trata, a exposi��o dela passa “despercebida” por muitos. O melhor local seria no Museu Peter Lund, na Gruta da Lapinha, junto ao acervo paleontol�gico do ilustre morador da cidade mineira.