Bruce Willis sorrindo em evento

Em mar�o de 2022, fam�lia de Bruce Willis anunciou que ele pararia de atuar por conta de diagn�stico de afasia; agora, foi divulgado um novo diagn�stico

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Menos de um ano ap�s anunciar que Bruce Willis foi diagnosticado com afasia, a fam�lia do ator divulgou nesta quinta-feira (16) um diagn�stico mais espec�fico: o artista, de 67 anos, tem um tipo de dem�ncia, hoje sem cura, chamado de dem�ncia frontotemporal (FTD, na sigla em ingl�s).


Segundo dois m�dicos entrevistados pela BBC News Brasil, a afasia — o comprometimento da linguagem, manifestado pela dificuldade de falar ou entender outras pessoas — � um primeiro sinal frequente da dem�ncia frontotemporal. A afasia pode ter v�rias causas, como um AVC ou uma infec��o cerebral, mas quando relacionada a uma dem�ncia como a frontotemporal ou o Alzheimer e outros sinais, � caracterizada como afasia progressiva prim�ria (APP).

De acordo com um estudo publicado em outubro de 2022 na revista cient�fica Nature Communications, a FTD � respons�vel por 5 a 10% dos casos de dem�ncia. O tipo mais comum de dem�ncia � o Alzheimer.

O neurologista Gustavo Franklin explica que, como diz o nome, a dem�ncia frontotemporal afeta as regi�es frontal e temporal do c�rebro. H� uma variante da doen�a que se manifesta, como em Willis, nas dificuldades de linguagem (mais associada ao impacto na regi�o temporal). Existe tamb�m uma variante marcada por altera��es no comportamento (ligada � regi�o frontal).

“No in�cio do quadro, pode haver altera��es no comportamento, como a express�o de linguagem mais sexual. A desinibi��o � muito caracter�stica”, diz Franklin, referindo-se � variante comportamental.

“E essas altera��es comportamentais podem levar a diagn�sticos errados, como ansiedade, depress�o, bipolaridade e esquizofrenia. J� na linguagem, a pessoa � levada como desatenta, pregui�osa, ansiosa", completa o m�dico do Hospital Marcelino Champagnat, em Curitiba (PR).


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Coordenadora do setor de neurologia do Hospital Santa L�cia, em Bras�lia (DF), a m�dica Tha�s Augusta Martins esclarece que o diagn�stico dessa dem�ncia nunca ocorre em uma primeira consulta, mas ao longo do tempo. O diagn�stico cl�nico — ou seja, a partir do atendimento do pr�prio m�dico — � a principal forma de detec��o da doen�a, mas ele pode ser complementado por exames de imagens, an�lise gen�tica e testes cognitivos.

Inclusive, � essa combina��o de informa��es que permite diferenciar o tipo de dem�ncia — por exemplo, a FTD do Alzheimer.

“Voc� v� que o diagn�stico (de Bruce Willis) s� fechou de fato agora. E � realmente ao longo do tempo que a gente vai fechando o diagn�stico, com a evolu��o do quadro, podendo chegar ao nome e ao sobrenome da doen�a”, diz a m�dica, tamb�m diretora de assist�ncia m�dica do Hospital Santa L�cia.

Em uma nota assinada pelas cinco filhas de Willis, pela atual esposa, Emma Heming, e pela ex-esposa, Demi Moore, a fam�lia agradeceu pelo carinho dos f�s e anunciou o novo diagn�stico. “Infelizmente, desafios na comunica��o s�o apenas um dos sintomas que Bruce enfrenta. Embora seja algo doloroso, � um al�vio finalmente ter um diagn�stico claro”, diz a nota.

Em mar�o de 2022, ao divulgar que o ator tinha afasia, a fam�lia anunciou tamb�m que ele se aposentaria da carreira de ator.

Fundo gen�tico

Ilustração de cabeça com peças de quebra-cabeça

J� foram descobertos v�rios genes associados � dem�ncia frontotemporal

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A doen�a � progressiva, o que significa que n�o � poss�vel revert�-la e que o quadro tende a se agravar com o tempo. Apenas os sintomas podem ser tratados. “N�o tem nenhum medicamento que mude a evolu��o natural da doen�a. A gente d� medicamentos para a parte comportamental e terapias multidisciplinares, como fisioterapia e fonoaudiologia", aponta Tha�s Augusta Martins.


Frequentemente, a dem�ncia frontotemporal (FTD) se manifesta no per�odo dito pr�-senil, ou seja, antes dos 60 anos — mais precisamente entre os 45 e 65 anos. Essa � uma caracter�stica diferente do Alzheimer, que tende a aparecer mais tarde.


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O estudo publicado no ano passado na Nature Communications afirmou que, em cerca de 15% dos casos, a FTD � relacionada a uma muta��o espec�fica em um gene. De acordo com os m�dicos entrevistados pela reportagem, essa forma de dem�ncia tem um forte fundo gen�tico — at� mais que no Alzheimer. Por isso, uma mesma fam�lia pode ter mais de uma pessoa manifestando a FTD ao longo do tempo.


“J� foram descobertos in�meros genes associados � dem�ncia frontotemporal. Nem sempre, no entanto, os genes determinantes s�o identific�veis — ent�o a gente n�o preconiza a investiga��o (gen�tica) para quem n�o tem casos na fam�lia", diz Franklin.

Para a fam�lia de quem tem este tipo de dem�ncia, Martins lembra de outro desafio: lidar com as altera��es manifestadas por uma pessoa querida.

“O paciente come�a a fazer coisas inapropriadas, a falar coisas inapropriadas em p�blico. � um sofrimento para a fam�lia, � dif�cil de aceitar. A fam�lia fala: poxa, ele nunca falaria isso, ele nunca xingaria”, exemplifica a m�dica. “O paciente tamb�m vai ficando cada vez com menos fala, e a fam�lia sofre muito com isso tamb�m.”


A fam�lia de Willis, na nota divulgada nesta quinta-feira, escreveu esperar que a situa��o do ator ajude a conscientizar sobre a condi��o. “Hoje, n�o h� tratamentos para a doen�a, uma realidade que esperamos que possa mudar nos pr�ximos anos. Conforme a condi��o do Bruce avan�a, esperamos que qualquer aten��o da m�dia possa focar em jogar luz sobre essa doen�a, sobre a qual � preciso muito mais conscientiza��o e pesquisas.”

“Bruce sempre acreditou em usar a voz dele no mundo para ajudar outras pessoas e a chamar a aten��o para assuntos importantes, tanto no p�blico quanto no privado”, escreveram as filhas, a esposa e a ex-esposa do ator.