A maioria dos protetores utiliza um bloqueador qu�mico de raios ultravioleta (UV) chamado oxibenzona, subst�ncia que acelera a destrui��o de recifes de coral. (foto: wanzi989813/Pixabay )
O protetor solar � indicado para pessoas de todas as faixas et�rias, com a recomenda��o de que seja usado diariamente para evitar o c�ncer de pele, uma das doen�as mais incidentes na popula��o. Apesar dos benef�cios � sa�de, estudos cient�ficos mostram que esse produto gera preju�zos ao meio ambiente, principalmente � fauna marinha. Na tentativa de equilibrar esses efeitos, pesquisadores internacionais buscam mat�rias-primas naturais que possam ser usadas em novas formula��es desses t�picos. Os futuros bloqueadores poder�o, inclusive, evitar outras complica��es humanas, como o envelhecimento da pele.
A maioria dos produtos comercializados utiliza um bloqueador qu�mico de raios ultravioleta (UV) chamado oxibenzona. Estudos recentes, por�m, mostram que essa subst�ncia acelera a destrui��o de recifes de coral. "V�rios estados e pa�ses j� proibiram o uso desse qu�mico e seus derivados para impedir os efeitos devastadores sobre o ecossistema marinho do mundo", relata, em comunicado � imprensa, Kan Cao, professora do Departamento de Biologia Celular e Gen�tica Molecular da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos.
Para evitar esses preju�zos ambientais, Cao e colegas resolveram testar o uso de um medicamento conhecido como um poss�vel substituto do oxibenzona: o azul de metileno. Em experimentos laboratoriais, essa droga n�o t�xica, utilizada para tratar problemas m�dicos diversos, como envenenamentos e mal�ria, foi aplicada em c�lulas de pele humanas de doadores jovens e idosos. Os pesquisadores constataram que o azul de metileno absorve os raios UVA e UVB como os filtros solares tradicionais e tamb�m ajuda a reparar os danos no DNA causados pela exposi��o ao Sol.
"Ficamos extremamente animados ao ver que os fibroblastos da pele derivados de indiv�duos jovens e idosos foram protegidos do estresse celular com o aux�lio do azul de metileno", enfatiza Cao. "O mais surpreendente � que tamb�m descobrimos que a combina��o de azul de metileno e vitamina C gera efeitos antienvelhecimento surpreendentes, particularmente em c�lulas da pele de doadores mais velhos, sugerindo uma forte rela��o sin�rgica entre essas subst�ncias."
Em uma segunda etapa, a equipe exp�s as mesmas quantidades de azul de metileno e de oxibenzona a uma esp�cie de coral flex�vel: o Xenia umbellata. Os corais estavam em tanques isolados e tiveram o crescimento e as respostas � exposi��o a esses produtos qu�micos monitorados. Em menos de uma semana, os que estavam nos recipientes com oxibenzona sofreram um branqueamento (desgaste) dr�stico. J� os que tiveram contato com o azul de metileno n�o tiveram o mesmo preju�zo, mesmo com alta concentra��o da subst�ncia. Detalhes dos resultados foram apresentados em um artigo publicado na revista Scientific Reports.
Melissa Deuner, coordenadora do curso de farm�cia da Faculdade Anhanguera, em Bras�lia, conta que o azul de metileno vem sendo estudado em v�rias pesquisas da �rea m�dica, obtendo bons resultados. "Esse artigo, agora, demonstra a efici�ncia como um fotoprotetor. E o mais importante � que ele torna o produto mais biodegrad�vel. Em alguns pa�ses, j� vem sendo reduzido o uso da oxibenzona e tamb�m de outro elemento qu�mico usado nesses cosm�ticos, o dimetil PABA, devido aos v�rios preju�zos que eles causam � fauna e � flora aqu�tica", detalha. "Sem falar que eles podem ser um potencial cancer�geno para nossas c�lulas e at� causar desequil�brios hormonais."
Deuner acredita que a busca por produtos farmac�uticos menos agressivos ao planeta vai se tornar ainda mais forte nos pr�ximos anos. "Cada dia mais, empresas v�m se preocupando em produzir esses produtos. Estatisticamente, percebe-se que eles s�o mais bem vistos e aceitos pela popula��o. Sem falar que, se todos contribu�rem de forma positiva nessa quest�o, estaremos auxiliando a preservar a nossa sobreviv�ncia", explica. "Desejamos que esses estudos sejam ampliados e que desenvolvam fotoprotetores tamb�m orais. Assim, estar�amos dando um excelente salto ao aux�lio ambiental."
Do lixo
Uma oleaginosa muito consumida no Brasil tamb�m pode ser usada como mat�ria-prima de protetores solares, mostram pesquisadores sul-africanos. "Com as preocupa��es atuais sobre os absorvedores de raios UV em protetores solares e o seu impacto no ecossistema, buscamos encontrar uma maneira de produzir uma alternativa menos agressiva a partir do l�quido da casca da castanha-de-caju, um recurso biorrenov�vel", relata, em comunicado, Charles de Koning, pesquisador da Universidade de Witwatersrand e um dos autores do estudo, publicado na revista European Journal of Organic Chemistry.
Em experimentos com c�lulas de pele humana, a equipe testou v�rias vers�es de filtros solares com fen�is, subst�ncias presentes no l�quido retirado da casca da castanha-de-caju. As mol�culas mostraram uma alta absor��o dos raios UVA e UVB, mas falta, segundo os cientistas, ajustar a quantidade de fen�is presentes na solu��o para gerar a prote��o necess�ria � pele.
Koning tamb�m chama a aten��o para o fato de a inova��o m�dica usar produtos cujo destino nem sempre � ambientalmente sustent�vel. "Essas cascas s�o um res�duo descartado nas comunidades que produzem esse alimento, especialmente na Tanz�nia. Ent�o, encontrar uma maneira �til e sustent�vel de usar esse material � algo que pode ser muito vantajoso para n�s e para o planeta", enfatiza.
Solu��o que vem do mar
Pesquisadores dos EUA constataram que o azul de metileno absorve os raios UVA e UVB como os filtros solares tradicionais e tamb�m ajuda a reparar os danos no DNA causados pela exposi��o ao Sol (foto: joakant/Pixabay )
Especialistas brit�nicos resolveram procurar candidatos a uma nova classe de protetor solar em compostos de algas marinhas. Ap�s uma s�rie de an�lises feitas com essas plantas, eles extra�ram o amino�cido palitina, que � semelhante � micosporina (MAA), um elemento qu�mico respons�vel pela fotoprote��o de diversos organismos aqu�ticos.
"Os MAAs s�o compostos naturais produzidos em organismos que vivem em ambientes de �guas rasas", detalha Karl Lawrence, pesquisador do Instituto de Dermatologia do King's College London e um dos autores do estudo, publicado no peri�dico British Journal of Dermatology.
Usando c�lulas da pele humana, os pesquisadores mostraram que, mesmo em concentra��es muito baixas, a palitina pode absorver os raios nocivos do Sol e proteger a pele da radia��o. Tamb�m mostraram, em laborat�rio, que esse amino�cido proveniente de algas marinhas � um poderoso antioxidante, podendo oferecer prote��o � pele contra o estresse oxidativo. Essa rea��o qu�mica � respons�vel por danos celulares e pelo fotoenvelhecimento.
Segundo Lawrence, a exposi��o � radia��o solar induz a altos n�veis de estresse oxidativo, e os protetores atuais n�o oferecem esse tipo de prote��o. "Nossos dados mostram que, com mais pesquisa e desenvolvimento, os protetores solares de origem marinha podem ser uma poss�vel solu��o com impacto positivo significativo na sa�de dos habitats marinhos e da vida selvagem, ao mesmo tempo em que fornecem uma blindagem ainda mais eficaz aos danos solares causados � pele humana", enfatiza Antony Young, tamb�m autor do estudo.
Segundo Keila Pati, dermatologista do Hospital Santa Marta, em Bras�lia, a subst�ncia em teste pode inclusive facilitar os cuidados rotineiros com a pele. "Existem diversos antioxidantes derivados de produtos naturais que, se usados associados aos protetores solares, potencializam a a��o anti-UV. Eles existem tanto na forma oral quanto na t�pica. Mas, infelizmente, ainda n�o s�o usados como substitutos dos filtros solares habituais. Acredito que esse seja o caminho, como esse artigo prop�e", explica.
Para a m�dica, tamb�m � importante desenvolver protetores que beneficiem o maior n�mero de pessoas poss�vel. "� de suma import�ncia o desenvolvimento desse tipo de produto, j� que todas as formas de vida no nosso planeta est�o interligadas, e algum desequil�brio desses ecossistemas acaba afetando, mesmo que indiretamente, a nossa sa�de e o nosso bem-estar. Al�m do desenvolvimento desses novos recursos, devemos buscar que eles venham ao consumidor a um valor acess�vel, al�m de conscientizar a popula��o sobre a import�ncia dessas novas a��es, para que haja uma maior ader�ncia de todos." (VS)
Por uma transi��o segura
"A pele assume um papel primordial em nossa sa�de, tanto por ser o maior �rg�o do corpo humano quanto por desempenhar fun��es cruciais, como a s�ntese de vitamina D, agir como uma barreira f�sica e qu�mica para impedir a entrada de pat�genos, al�m de regular a nossa temperatura. A condi��o de ser o �rg�o mais externo, a torna suscept�vel a agress�es ambientais tanto da polui��o quanto das radia��es solares, da luz vis�vel e do infravermelho, que culminam na piora do envelhecimento precoce. Os filtros solares antiultravioleta come�aram a ser produzidos em escala industrial na d�cada de 1970. Mas, com a clara mudan�a atual do mercado consumidor, que passou a preferir ingredientes naturais aos sint�ticos, s�o imprescind�veis novos estudos sobre a efetividade cl�nica e as fun��es biol�gicas dos extratos naturais para que consigamos, de forma segura e cient�fica, transitar para a fotoprote��o t�pica e oral com ativos naturais."
Patr�cia Castro, dermatologista
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