Estudo liderado por pesquisadores brasileiros ligados a institui��es de Minas Gerais p�e uma p� de cal sobre os supostos benef�cios da ivermectina no combate � COVID-19. Publicado na revista cient�fica “New England Journal of Medicine” (Nejm), o estudo, apontado como o maior sobre o tema at� o momento, conclui que o f�rmaco n�o reduz o risco de hospitaliza��o dos infectados pelo v�rus. “O tratamento com ivermectina n�o resultou em menor incid�ncia de interna��es m�dicas por progress�o da COVID-19”, dizem os pesquisadores.

Desde o in�cio da pandemia, a ivermectina, medicamento prescrito para a elimina��o de parasitas, foi associado ao tratamento contra a COVID-19, depois que testes laboratoriais iniciais sugeriram que o rem�dio poderia bloquear a prolifera��o do v�rus. Apesar de os supostos benef�cios nunca terem sido demonstrados em testes em seres vivos, a droga continua sendo usada em alguns pa�ses. No Brasil, ela faz parte do “kit covid”, conjunto de medicamentos ineficazes ou sem efic�cia comprovada contra a doen�a que, mesmo assim, continuam sendo promovidos como tratamento contra o coronav�rus.

O estudo, publicado na quarta-feira, foi desenvolvido por pesquisadores brasileiros, entre eles membros da Pontif�cia Universidade Cat�lica de Minas Gerais e Universidade Federal de Ouro Preto. A pesquisa, que � parte da iniciativa Together, contou com a colabora��o de cientistas da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, e da Universidade Monash, na Austr�lia.

Quando o estudo foi realizado, notava-se uma grande ideologiza��o do uso da Ivermectina no pa�s e nos Estado Unidos, observa o pesquisador e professor da PUC-Minas Gilmar Reis, que liderou a pesquisa. “Hoje, no Brasil, isso diminuiu bastante. Por�m, nos Estados Unidos, continua muito intensa. S� na primeira semana de janeiro deste ano, foram gastos US$ 2,5 milh�es em ivermectina para a COVID-19, um enorme recurso desembolsado desnecessariamente”, observa.

Durante o estudo, salientou-se a import�ncia de identificar terapias baratas e amplamente dispon�veis contra a COVID-19, mas esse, definitivamente, n�o � o caso do verm�fugo. “N�o h� indica��o de que a ivermectina seja clinicamente �til”, disse Edward Mills, um dos principais pesquisadores desse novo estudo e professor de ci�ncias da sa�de na Universidade McMaster, do Canad�.

CORRIDA No in�cio da pandemia, explica Reis, todo mundo procurou redirecionar medicamentos j� existentes para um poss�vel tratamento da COVID-19, j� que encontrar um medicamento novo baseado na biologia viral era quase imposs�vel, uma vez que nem se sabia qual era o genoma do v�rus. “Dentro dessa �tica, utilizamos a pesquisa de medicamentos bem conhecidos que, do ponto de vista da ci�ncia experimental, da ci�ncia b�sica, demonstraram algum efeito contra o v�rus.  Por isso, foram estudados inicialmente tr�s medicamentos: metformina, ivermectina e a fluvoxamina.

At� a publica��o desse trabalho, o que se tinha era uma s�rie de estudos de pequeno ou m�dio portes, com um n�mero razo�vel de pacientes usando a droga, mas metodologicamente incompletos, n�o randomizado, n�o duplo-cego ou n�o controlado por placebo. Essas circunst�ncias acabavam trazendo d�vidas na comunidade cient�fica sobre realmente sepultar ou n�o a medica��o, explica.

“Mas, agora, trata-se do maior estudo sobre a ivermectina j� feito no mundo. Do ponto de vista acad�mico, cient�fico e metodol�gico, � um estudo muito bem-feito, realizado dentro de uma rede de colabora��o enorme. Nosso grupo Together � considerado o mais importante de pesquisa em COVID-19 ambulatorial do mundo inteiro. Acreditamos que, a partir de agora, n�o tenha o menor sentido prescrever a ivermectina para a COVID-19 e ponto”, finaliza Gilmar Reis.

METODOLOGIA Os cientistas realizaram um estudo duplo-cego, com pacientes infectados que n�o tiveram sintomas da doen�a por mais de sete dias e sem hist�rico de uso de ivermectina para tratamento da enfermidade. Entre 23 de mar�o e 6 de agosto de 2021, 1.358 pacientes foram observados, dos quais, 679 receberam aleatoriamente a ivermectina, enquanto os outros 679 tomaram um placebo (prepara��o neutra quanto a efeitos farmacol�gicos). Pacientes assintom�ticos que testaram positivo para o SARS-CoV-2 n�o entraram na conta.

A m�dia de idade dos volunt�rios era de 49 anos. Eles foram monitorados para averiguar se a ivermectina foi capaz de eliminar o v�rus do corpo em menos tempo; se os sintomas desapareceram mais cedo; se ficaram internados ou utilizaram ventila��o mec�nica por menos tempo; e se havia alguma diferen�a nas taxas de mortalidade entre os dois grupos. Nem os m�dicos nem os pacientes sabiam quem recebia o medicamente ou o placebo. No relat�rio final, os pesquisadores afirmaram que n�o houve nenhuma diferen�a entre os grupos.

Em entrevista ao “The New York Times”, David Boulware, especialista em doen�as infecciosas da Universidade de Minesota, salienta que agora as pessoas poder�o mergulhar nos detalhes e nos dados e espera que o estudo, finalmente, desvie a maioria dos m�dicos da ivermectina para outras terapias.

DEFINITIVO “Esse estudo publicado recentemente tem uma import�ncia grande. Foi um trabalho conduzido de maneira t�cnica bastante apurada, correto e com um n�mero grande de participantes. Consequentemente, considerando um dos estudos mais amplos sobre o uso da ivermectina. Ele tem essa import�ncia de ser um ‘ponto final’ nessa hist�ria, mantendo a conclus�o pr�via e definitiva de que de fato esse verm�fugo n�o tem um poder de auxiliar no tratamento paliativo ou principal para infec��es causadas pelo SARS-CoV-2”, comenta Fl�vio da Fonseca, virologista da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e atual presidente da Sociedade Brasileira de Virologia.

O infectologista Estev�o Urbano concorda que esse � um estudo importante. “S� se come�a a provar teorias (sobre medicamentos) quando elas s�o testadas em seres vivos. Muitos estudos foram feitos e comprovaram a inefic�cia da ivermectina. Os pouqu�ssimos estudos que mostravam a droga como um potencial agente tinham metodologias muito fr�geis, diferentemente dos bons estudos, com metodologias cient�ficas e adequadas como esse”, comenta.