Um total de 23 milh�es de abortos espont�neos ocorrem anualmente no mundo, segundo dados colhidos por uma equipe internacional de 31 pesquisadores, que acreditam, no entanto, que o balan�o real seja "substancialmente maior", devido �s subnotifica��es.
Uma em cada 50 mulheres, ou 2%, experimentou dois abortos espont�neos, enquanto menos de 1% passou por tr�s ou mais.
Os n�veis de atendimento de mulheres que sofrem aborto s�o altamente desiguais entre os pa�ses, e tamb�m dentro de muitas na��es ricas, mostram os dados. "Um novo sistema � necess�rio para garantir que os abortos espont�neos sejam mais reconhecidos e que as mulheres recebam os cuidados f�sicos e psicol�gicos de que necessitam", assinalaram os pesquisadores.
Informa��es err�neas ligadas ao aborto espont�neo s�o generalizadas. Muitas mulheres acreditam que ele ocorre raramente ou que pode ser causado pelo levantamento de objetos pesados ou uso pr�vio de anticoncepcionais. Elas tamb�m podem pensar que n�o h� tratamentos eficazes para prevenir a intercorr�ncia, especialmente no caso de mulheres com gravidez de risco. Esses equ�vocos podem ser prejudiciais, fazendo com que as mulheres e seus parceiros se sintam culpados, e os desencorajando a buscar tratamento e apoio, observam os autores.
O aborto espont�neo � amplamente definido como a perda de uma gravidez antes de 20 a 24 semanas de gesta��o, com o per�odo exato variando de acordo com o pa�s.
- Trauma n�o reconhecido -
Uma revis�o da literatura acad�mica publicada at� maio de 2020 identificou muitas causas para os abortos espont�neos, entre elas a idade avan�ada da m�e, ocorr�ncias anteriores e um pai com mais de 40 anos. Outros fatores de risco s�o: peso extremamente baixo ou alto, tabagismo, consumo de �lcool, estresse persistente, trabalho noturno e exposi��o constante � polui��o do ar ou a pesticidas. As consequ�ncias para a sa�de podem ser graves, principalmente para mulheres que vivenciam o segundo ou v�rios abortos espont�neos.
"O aborto espont�neo recorrente � uma experi�ncia devastadora para a maioria das mulheres, mas seu impacto na sa�de mental � raramente reconhecido ou tratado", assinalou Arri Coomarasamy, da Universidade de Birmingham, um dos autores dos estudos. "As mulheres podem sofrer traumas e luto, que podem n�o ter nenhum sinal �bvio e passar despercebidos." Tamb�m existe uma rela��o com casos de ansiedade, depress�o e - para cerca de 20% das mulheres - transtorno de estresse p�s-traum�tico nove meses ap�s um aborto espont�neo.
Os autores dos estudos observaram que a maioria dos dados s�o de pa�ses mais ricos, mas que o "sil�ncio em torno do aborto" est� em todo o mundo. Eles recomendaram que as autoridades nacionais de sa�de fortale�am os servi�os de atendimento ao aborto espont�neo, ampliem a pesquisa sobre preven��o e identifiquem mulheres com alto risco.
"A era de dizer �s mulheres apenas para tentarem de novo acabou", afirma a The Lancet em um editorial que acompanha o relat�rio.
PARIS