Quase cinco d�cadas separam um bar do outro. A av� abriu o Bebedouro em 1977 na cidade de Curitiba. Desde abril, o neto continua a hist�ria em Belo Horizonte, com o mesmo nome. O Bebedouro daqui fica na Lagoa da Pampulha e do seu deck d� para ver a Igrejinha bem de frente, l� do outro lado da orla. O card�pio, todo voltado para o fogo, tem muitos pratos que homenageiam esse passado.
“Ela administrava o restaurante, cozinhava e passava nas mesas cantando bolero. Isso virou uma febre”, conta Diogo Manfredini, neto de Maria �ngela, a quem se refere como uma mulher � frente do tempo. Ele nem era nascido quando a sua av� abriu o bar com gastronomia de restaurante, o que hoje se chamaria de gastrobar. O nome se refere ao bebedouro de pedra para animais que fica no centro hist�rico de Curitiba. Com a chegada do primeiro neto, em 1984, ela decidiu encerrar as atividades.
A fam�lia s� voltou a trabalhar com bares depois que Maria �ngela faleceu. Na �poca, o pai de Diogo, Marcos Ara�jo, abriu o Quermesse, em Curitiba. Mais tarde, seu irm�o, Jos� de Ara�jo Netto, que era banc�rio, resolveu investir no ramo e lan�ou as marcas Mr. Hoppy (j� vendida) e Porks. Somando, j� s�o mais de 120 bares da fam�lia no Brasil.
O deck com letreiro iluminado tem uma das vistas mais bonitas para a Igrejinha da Pampulha (foto: Henrique Pimentel/Divulga��o)
Diogo veio para BH pela primeira vez h� 10 anos para abrir uma unidade do Quermesse. O bar foi vendido e ele voltou para Curitiba, mas sempre alimentou a vontade de se fixar em BH. A nova oportunidade apareceu quando as marcas do irm�o come�aram a ser franqueadas. Da capital mineira, onde tem quatro unidades, o Porks se espalhou por 10 estados.
“Sempre admirei o meu irm�o, mas queria ter uma casa minha e construir a minha trajet�ria de vida. Resolvi misturar tudo o que aprendi nesses 15 anos e criar o bar mais completo que pudesse ter”, conta Diogo, que procurou, intencionalmente, um lugar na regi�o da Pampulha por entender que pontos tur�sticos fazem bons bares, baseado na experi�ncia do Porks em frente ao Museu Niemeyer, em Curitiba.
O espa�o, todo aberto, tinha sido uma flora e estava abandonado. Na decora��o, Diogo trabalhou com objetos antigos (tem mala pendurada na �rvore e televis�o de tubo no meio do jardim) e muita madeira. Ele queria voltar aos tempos do Bebedouro antigo.
Fogo na mesa: pratos finalizados com ma�arico lembram o macarr�o flambado da av� de Diego Manfredini (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
“As madeiras das mesas n�o s�o pintadas, foram todas queimadas no fogo. O mais impressionante � que, sem saber, ficaram quase iguais �s do Bebedouro original”, comenta. Os p�s em dourado lembram a av� (era sua cor favorita).
O deck virou um ponto para admirar a beleza de BH. Ao fundo, uma das vistas mais lindas da Igrejinha da Pampulha. Parece que as �rvores deram licen�a para que os contornos da obra de Oscar Niemeyer se exibissem sem nenhuma barreira. Nesse ponto, um letreiro iluminado com o escrito “Belori Hills” emoldura as fotos que todos param para tirar. O bar tamb�m incentiva a brincadeira de colocar um cadeado na grade para eternizar o amor dos casais.
Petiscos de boteco
O card�pio mistura comida de boteco, parrilla e frutos do mar. Entre os petiscos, croquete de carne, pastel de porco com calda de frutas vermelhas braseadas e batatas com pulled pork e sour cream s�o boas pedidas.
Gin Tatuxa, drinque com gim, xarope de caramelo salgado, soda e marshmallow ma�aricado (foto: Henrique Pimentel/Divulga��o)
Alguns pratos foram pensados para homenagear Maria �ngela. O uso do ma�arico na mesa remete ao macarr�o flambado que ela fazia e era servido “pegando fogo”. Hoje, as chamas derretem o gratinado da ostra de Santa Catarina com bacon e espinafre e a mu�arela que cobre as tulipas de frango � italiana. “Somos descendentes de italianos e as asinhas de frango fazem uma releitura do frango com polenta, que todo restaurante italiano serve”, explica.
Muitas receitas vivem lembran�as dos momentos em fam�lia ao redor da mesa. O camar�o empanado com parmes�o � uma adapta��o da maionese de camar�o da av�. Diogo ainda criou drinques com figo e cereja, ingredientes que ela servia na ceia de Natal.
“Fui pegando receitas que me marcaram e criei o card�pio como se a minha av� estivesse comigo, e acho que ela estava. Sinto algo inexplic�vel.” Quis o destino que ele pegasse as chaves do im�vel no mesmo dia do anivers�rio da av�.
Da parrilla, saem diversos cortes. Em destaque, as carnes com osso, entre elas t-bone e tomahawk. “Isso vem da nossa inf�ncia. Naquela �poca, a minha av� j� dizia que carnes com osso t�m mais sabor e elas faziam parte do churrasco da fam�lia. Hoje s�o muito mais valorizadas”, aponta. Outros cortes que chamam a aten��o s�o picanha com chimichurri, fraldinha na mostarda e fil�-mignon com gorgonzola.
No bar, um drinque tem feito sucesso � a Caipi Gabriela, com a curiosa combina��o de cacha�a, cravo, canela, lim�o, a��car mascavo e espuma de banana. A ideia veio da m�e de Diogo, que mora em Antonina, cidade hist�rica no litoral do Paran� com gastronomia que gira em torno da banana. � dela tamb�m a receita da banoffee, muito famosa l� no Quermesse de Curitiba, que tem recebido elogios por aqui.
Falando em Quermesse, Diogo anuncia que vai reabrir o bar na Pra�a Tiradentes, em BH, ainda este m�s. Ele tamb�m tem muita vontade de lan�ar franquias do Bebedouro, mas diz que ainda � cedo.
