
Um lugar para conhecer Tiradentes atrav�s dos sabores. O Tragaluz chega aos 21 anos consciente da sua responsabilidade de ser praticamente um ponto
tur�stico
da cidade hist�rica. Agora sob o comando do chef Matheus Paratella, o espa�o, instalado em um casar�o na Rua Direita, quer ser reconhecido como o melhor restaurante do interior do Brasil. Em paralelo, inaugura wine bar e caf�, resgatando suas origens, e se prepara para abrir outras opera��es na cidade.
O dono do Tragaluz, Pedro Navarro, sempre teve vontade de levar Matheus Paratella para Tiradentes. Fez v�rios convites nos �ltimos anos, mas o chef estava focado em ter o seu pr�prio restaurante. � frente do D’Agostim di Paratella, ele elevou a gastronomia italiana em Belo Horizonte, mas fechou as portas na pandemia e sentiu que era a hora de mudar de vida. “Sempre gostei de desafios.”
Mineiro de BH, Matheus vem de fam�lia italiana e morou por 20 anos em Alba, cidade na regi�o de Piemonte. As refer�ncias da
It�lia
, naturalmente, s�o fortes na sua cozinha, mas, sempre cheio de ideias, n�o se limita a isso. “Tenho liberdade para usar a minha base italiana, mas sem perder o foco na ess�ncia do Tragaluz e de Minas.”

Um exemplo dessa fus�o � o ravi�li del plin de galinha-d’angola. Plin, no dialeto piemont�s, significa belisc�o. � o que italianos fazem na hora de fechar a massa: “beliscam” as pontinhas para tirar o ar e evitar que entre �gua na hora de cozinhar. Antes, o chef fazia o tradicional recheio de tr�s carnes (porco, boi e coelho). Agora usa a ave �cone da cozinha do Tragaluz.
A galinha-d’angola, ali�s, nunca esteve em tantos pratos do card�pio. Pedro, que assumiu o restaurante h� seis anos, brinca que s� n�o tem nas sobremesas.
Lembran�as de afeto
Entre as entradas, chama a aten��o a
canja
de galinha-d’angola. N�o se engane: parece ser um prato simples demais para um restaurante, mas surpreende. O caldo � potente de sabor, tem o frescor das ervas e o aconchego esperado em uma receita que carrega tanta afetividade. “Uma das maiores realiza��es � quando o cliente se lembra da inf�ncia. Gosto de despertar lembran�as de afeto”, diz o chef.

A Pintada Tragaluz segue como s�mbolo da casa. O novo chef mant�m a tradi��o, mas d� o seu toque. O paio � incorporado ao arroz caldoso, servido com coxa e sobrecoxa de
d’angola
, em cubinhos, e n�o mais em rodelas. Suco e raspas de laranja entram para levar frescor e a croc�ncia fica por conta da farofa de milho flocada. O prato ainda conta com folhas de ora-pro-n�bis e minilegumes. A moela da ave � acompanhada por tutu de feij�o, ora-pro-n�bis, agri�o e farofa de p�o, cacau e avel� em outro prato.
Matheus nunca desliga. � o primeiro a chegar e o �ltimo a sair da cozinha. Nem mesmo uma recente cirurgia no joelho o impediu de trabalhar. Nos dias de folga, est� ele em casa pensando em novos pratos. Curioso, criativo, sempre com vontade de aprender, se entrega com amor ao que faz. “Quando voce faz o que ama, tudo fica mais leve. Digo que n�o trabalho, fa�o o que amo, ent�o n�o sinto o peso”, avalia o chef, que levou para Tiradentes a subchef Debora Caldas, seu bra�o direto h� seis anos.
"O" jil�
Ingredientes comuns se transformam nas m�os do meio brasileiro, meio italiano. O jil� da entrada Sobre Minas � um exemplo. Assado inteiro, ele fica sem a pele, mas com uma camada de catchup de goiabada defumada. Por cima, gergelim preto.
Acusado de n�o ter gosto, o
chuchu
� a estrela de um dos pratos com mais personalidade do menu. Chuchu e bacon em cubos, castanha-de-baru, avel�, tempur� de ora-pro-n�bis e broto de manjeric�o s�o delicadamente posicionados no prato, que mais parece uma pintura. Na mesa, diante do cliente, o gar�om serve o creme de chuchu, que se mistura a todos os elementos com sabores e texturas contrastantes.

A experi�ncia no sal�o mudou com a chegada de Matheus. Todos os pratos saem da cozinha cobertos por cloches. Isso mant�m a comida quente e ainda provoca surpresas no momento da revela��o. O chef tamb�m treina a equipe para finalizar os pratos na frente do cliente. No caso do nhoque de baroa com tent�culos de lula flambados na cacha�a, o
molho
de moqueca � servido na mesa.
Se ficar com d�vida sobre qual prato pedir, escolha o
menu degusta��o
. Mantidos sob sigilo, os cinco tempos (aperitivo, duas entradas, prato e sobremesa) s�o uma �tima oportunidade para conhecer o lado criativo do chef. Matheus gosta de surpreender o cliente com receitas que n�o est�o no card�pio.
No fim, n�o deixe de experimentar o
semifredo
de amendoim. A sobremesa gelada tem a companhia do pralin� de amendoim (que vira uma farofa), esponja de cacau (aproxima��o do chef com a gastronomia molecular), telha de chocolate e ganache de chocolate meio amargo quente. Os f�s da Goiabada Tragaluz (prensada na castanha-de-caju, frita na manteiga e recheada com queijo cremoso) podem ficar tranquilos: ela continua firme no card�pio.
O futuro chegou
Rever o passado e, ao mesmo tempo, projetar o futuro. Chegar aos 21 anos como um dos restaurantes mais tradicionais de Tiradentes fez o Tragaluz se aprofundar nas suas ra�zes e buscar novos caminhos. “S� temos que comemorar e agradecer a todo mundo que participa da nossa
hist�ria
, mas tamb�m reconhecer a possibilidade de abrir outras frentes”, comenta o propriet�rio, Pedro Navarro.

O Tragaluz come�ou como caf� e loja, s� depois virou restaurante. Pedro resgata esta voca��o do espa�o, retomando a ideia de ser uma loja com produtos garimpados da regi�o, de objetos de decora��o a lou�as e doces. Na cozinha, que agora � aberta, o esfor�o � para ser cada vez mais consistente. “Queremos dialogar com as pessoas e mostrar que aqui tudo � feito a m�o. A massa � fresca de fato”, explica Pedro.
A grande
novidade
, que ser� lan�ada oficialmente no m�s que vem, mas j� est� em funcionamento, � o wine bar e caf�. O im�vel, que teve as janelas, paredes de adobe e pedra e o teto de madeira restaurados, fica ao lado do restaurante, na charmosa esquina da Rua Direita com o p�tio da Igreja Nossa Senhora do Ros�rio dos Pretos.
O novo espa�o, mais descontra�do, acolhe quem quer tomar um caf� no entardecer e funciona como sala de espera para o restaurante (muitos clientes acabam ficando por l�). Tamb�m recebe no balc�o com um drinque ou uma ta�a de vinho para fechar a noite. Por enquanto, o card�pio tem petiscos, sandu�ches e sobremesas, mas o chef Matheus Paratella quer acrescentar pratos como caldos e risotos.
Quem assina os drinques � Loran Nery, que trabalhou no Vecchio Sogno por sete anos. “Adoro a proposta de wine bar, de balc�o, de conversar com as pessoas e descobrir o que elas gostam.” O menu mostra apenas os cl�ssicos, mas o mixologista est� pronto para surpreender com misturas
autorais
.
Fora do menu
Sorridente e muito atencioso, ele apresenta o Flor de Nina, que combina gim, aperol, morango fresco, xarope de flor de hibisco, refrigerante de gengibre, lim�o siciliano e pimenta rosa. Depois serve uma vers�o do negroni, que tem sido muito procurado, chamada Summer Negroni, com gim, aperol, vinho composto franc�s com frutas c�tricas e casca de laranja. “� uma vers�o mais simples de beber, porque n�o traz tanto amargor”, informa.

Na busca por novas oportunidades, o Tragaluz assumiu o restaurante da Pousada Pequena Tiradentes, que ganhou o nome de D’Angola. Os pratos tamb�m s�o assinados por Matheus, que est� escalado para comandar mais uma opera��o da marca em Tiradentes, com uma pegada italiana.
A parceria de dois anos com o Gero, restaurante do Hotel
Fasano
em BH, continua e ter� novidades. A ideia � oferecer uma experi�ncia mais completa do Tragaluz na cidade, por isso, em breve, ser� lan�ado um menu degusta��o de quatro tempos no jantar. Entre os pratos confirmados, o nhoque de baroa com lula e molho de moqueca, a Pintada Tragaluz e a famosa goiabada.
Pedro j� recebeu v�rias propostas de abrir uma unidade do Tragaluz na capital, mas ele nunca considerou essa possibilidade. Acredita que o restaurante s� faz sentido em Tiradentes.
O que dizem sobre o Tragaluz
“Quando quem � de fora escuta Minas Gerais, imediatamente pensa em comida, hospitalidade, montanhas. Quando eu busco um lugar que representa tais palavras, a mem�ria imediatamente me traz o Tragaluz. Situado em Tiradentes, no charmoso vilarejo abra�ado pela serra de S�o Jos�, o restaurante possui servi�o atencioso e prestativo, ambiente cercado de hist�ria e aconchego e uma gastronomia de primeira grandeza.”Rusty Marcellini, pesquisador gastron�mico
“O Tragaluz talvez seja um dos primeiros restaurantes do Brasil a trazer os ingredientes t�picos mineiros para alta gastronomia. Desde o in�cio, teve o cuidado de ser um local de preserva��o – do im�vel at� a valoriza��o da galinha d’angola no menu. Pedro trouxe um novo f�lego � casa, que hoje conta com o talentoso chef Matheus Paratella. Depois de duas d�cadas, o Tragaluz � um lugar de alma jovem, mas cheio de hist�rias para contar!”
Rodrigo Ferraz, diretor-geral do Festival Fartura
“Tragaluz � luz que brilha dentro de uma joia barroca que se chama Tiradentes. Brilha longe, muito longe, nos chamando para sentir o gosto raro da comida feita com carinho!”
�ngela Gutierrez, empres�ria
“Frequento Tiradentes, esta joia da nossa hist�ria, h� muitas d�cadas. Testemunhei tanto o surgimento de in�meros restaurantes como o encerramento das atividades de v�rios deles, alguns muito bons. Isto demonstra a dificuldade, que poucos percebem, de se manter um restaurante em uma cidade tur�stica. Neste contexto, o Tragaluz � quase uma exce��o. Em atividade por tanto tempo e, mais importante, aliando um alto padr�o de cozinha e servi�o a um ambiente t�o agrad�vel, enriquece a experi�ncia daqueles que v�o a Tiradentes. Ao mesmo tempo que eleva o nome da nossa gastronomia, cria um destino pela sua continuidade. Foi com enorme satisfa��o que soube de mudan�as recentes, com a chegada do chef Matheus Paratella, que com sua grande experi�ncia e ineg�vel talento vai elevar ainda mais o padr�o de excel�ncia do Tragaluz.”
Rodrigo Fonseca, chef-propriet�rio do Taste-Vin
Nhoque de baroa com cabecinhas de lula flambadas na cacha�a e molho de moqueca
Ingredientes
1kg de baroa; 170g de parmes�o; 1 noz-moscada; sal e pimenta-do-reino a gosto; 250g de cabecinhas (tent�culos) de lula limpas; 2 dentes de alho; 40ml cacha�a; sal a gosto; 2 colheres de sopa de azeite extravirgem; 1 colher de caf� bem cheia de urucum; 1 cebola m�dia; 1 talo de sals�o pequeno; 1 alho-por� pequeno; 1 dente de alho; 1 piment�o vermelho pequeno; 35g de amendoim; 28g de camar�o seco; 250ml de leite de coco; 250ml de creme de leite fresco; 1/2 ma�o de coentro fresco; sal e pimenta a gosto; 1l de caldo vegetal
Modo de fazer
Coloque as baroas descascadas em um tabuleiro untado com �leo ou azeite. Cubra com papel-aluminio e asse a 170 graus at� ficarem macias. Retire o papel-alum�nio e seque-as bem. Esprema, ainda quentes, com a ajuda de um espremedor de batata diretamente em um bowl. Acrescente o parmes�o, noz-moscada, sal e pimenta-do-reino. Misture bem, cubra com um pl�stico filme e leve para a geladeira. Quando esfriar, unte outro tabuleiro com azeite ou �leo e fa�a bolinhas de aproximadamente 15g com a massa do nhoque. Reserve na geladeira novamente coberto com pl�stico filme. Para o molho de moqueca, esquente uma panela e acrescente o azeite e em seguida cebola, sal�o, alho-por�, alho e piment�o vermelho picados, refogando-os bem. Acrescente o urucum, mexendo bem, e depois o creme de leite, leite de coco, amendoim, camar�o seco e 2 conchas de caldo vegetal. Deixe ferver em chama baixa at� o molho reduzir pela metade. Processe o molho no liquidificador e tempere com sal e pimenta-do-reino a gosto. Reserve bem quente. Para a lula, esquente bem uma frigideira e coloque 2 colheres de sopa de azeite extravirgem. Doure o alho ligeiramente amassado e acrescente as cabecinhas de lula. Doure por aproximadamente 1min a fogo alto e em seguida flambe-as com a cacha�a. Assim que evaporar a bebida, ajuste o tempero com sal e pimenta-do-reino a gosto. Reserve. Coloque o tabuleiro de nhoque no forno preaquecido a 220 graus, por aproximadamente 5min. Acomode os nhoques a gosto, acrescente as lulas e decore o prato com ervas frescas. Despeje por �ltimo o molho de moqueca.