
“Ant�nio Roberto, minha mulher me aprisiona demais. Ela n�o quer que eu tenha amigos, que frequente minha fam�lia ou que fa�a qualquer coisa sem ela. Casamento � pris�o?”
. Fernando, de Formiga (MG)
Casamento � um espa�o onde duas pessoas, inicialmente, e depois com os filhos, resolvem partilhar uma experi�ncia de vida. Como em toda institui��o humana, no casamento h� oportunidade e necessidade de vivenciarmos duas dimens�es: a individual e a coletiva.
Para nosso crescimento e para sermos felizes precisamos das duas. Infelizmente, nos ensinaram, culturalmente, que a uni�o matrimonial saud�vel � aquela em que voc� perde sua individualidade em prol do amor e da institui��o. � muito comum ouvirmos falar do casamento como pris�o, como forca, como perda total da liberdade. O ritual das famosas “despedidas de solteiro” reafirma esse conceito. – “Aproveite, porque a partir do casamento acabou sua vida”, os pais sempre advertem seus filhos a prop�sito do perigo de se casarem cedo, de que eles t�m de aproveitar a vida antes.
O tradicional conceito de que amar � renunciar reafirma essa ideia e �, no meu modo de pensar, respons�vel pelo fracasso de muitos casamentos. Se o objetivo da vida � o desenvolvimento cont�nuo de nossa potencialidade enquanto pessoa, para alcan�ar n�veis elevados de felicidade e bem-estar o casamento n�o pode impedir esse objetivo. Pelo contr�rio, a rela��o afetiva deve facilitar e alimentar esse caminho.
O grande desafio da vida em caminho � o equil�brio entre o individual e o comum. E a� � que reside nossa grande dificuldade. A maioria de n�s n�o desenvolveu a habilidade de ser ele mesmo, nos desejos, nos objetivos e nas a��es e, ao mesmo tempo, ser com o outro no partilhamento, no companheirismo e no andar juntos. Dentro desse princ�pio, o casamento, ou qualquer outra institui��o, a empresa ou a Igreja, por exemplo, n�o pode, em nome da sua preserva��o, tentar anular o indiv�duo. Podemos dizer que o casamento tem tr�s espa�os fundamentais: o espa�o do marido enquanto indiv�duo; o espa�o da mulher, tamb�m enquanto indiv�duo; e o espa�o em comum da rela��o dos dois. O enfraquecimento de qualquer desses espa�os trar� um desequil�brio, raiz de muito sofrimento. As marcas principais da pessoa s�o a liberdade individual e o partilhar com o outro. Algumas m�sicas espelham isso: “Sonho que se sonha s� � s� um sonho que se sonha s�, mas sonho que se sonha junto � realidade.” – “Mas acorrentado ningu�m pode amar”.
Cada membro da fam�lia tem direito de desenvolver suas prefer�ncias, suas amizades, seus hobbies, seus desejos, seus caminhos pr�prios. Para haver casamento, tamb�m devem desenvolver objetivos comuns, divertimentos comuns, desejos comuns, enfim, uma vida em comum. Privilegiar excessivamente um desses lados tem sido a causa de tantos conflitos entre homem e mulher.
Do ponto de vista cultural, a mulher, em geral, entra no casamento movida por um desejo obsessivo de prote��o, seguran�a e estabilidade. Da� querer privilegiar a juntidade, gerando um desejo exacerbado de controle sobre o marido, achando um absurdo que ele tenha seus amigos, seu futebol, sua dedica��o ao trabalho, sua “cervejinha” etc. Por outro lado, tamb�m culturalmente, o homem se casa querendo obsessivamente permanecer solteiro e se sentindo no direito de manter uma liberdade absoluta e, em nome dela, fazer o que quiser e quando quiser, sem dar a m�nima satisfa��o � esposa.
A prevalecer a tend�ncia feminina, o resultado ser�o pessoas empobrecidas emocionalmente, sem alegria e com alto grau de cobran�a ao outro como respons�vel de sensa��o de sufocado e oprimido. Se prevalecer a tend�ncia masculina, para que o casamento? A frieza e o distanciamento acabam por matar a rela��o.
Para o sucesso da vida conjugal, os homens, como o leitor acima, deveriam tomar a iniciativa de fortalecer o tempo e o espa�o em comum (definir objetivos dos dois, passear mais, dialogar mais, ter mais cuidado com os desejos do outro) e as mulheres se esfor�arem no sentido de incrementar a individualidade de cada um, respeitar as diferen�as e ficar feliz com a alegria do outro.