UNIÃO ENTRE GERAÇÕES

Mãe e filha compartilham a sala de aula e os sonhos na faculdade

Na terceira idade, Dirce encara o desafio de cursar direito lado a lado com sua "menina", de 20 anos. Na missão, as duas estreitam laços

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Normalmente, o ambiente universitário remete aos jovens, à faixa etária entre os 18 até a casa dos 20 anos. Também é comum que estudos e família sejam searas da vida que não se misturam, só “de longe”. Mas não precisa ser sempre assim. Na Milton Campos, faculdade de Direito em Nova Lima, há um caso entre os corredores da instituição que foge à regra.

Maria Dirce da Costa Vieira e Clara Anahy Costa Vieira, mãe e filha, fazem o mesmo curso, na mesma faculdade e estão no mesmo período. Apenas as salas de aula são diferentes porque Dirce precisa estudar durante à noite, por causa do trabalho, e Clara estuda de manhã.

Mas, dessa forma é melhor, segundo a coordenadora do curso de direito, Ana Luisa Perim. Ela recomenda que os parentes interessados em estudar não sejam da mesma turma: “No caso da Clara, que está fazendo a primeira graduação, a pessoa quer viver, fazer um comentário engraçado com os colegas. É um comportamento natural. Elas estudam juntas, com professores em comum, mas cada uma tem a sua turma e seu espaço de convivência”, diz.

Mãe depois dos 40, Dirce atualmente tem mais de 60 e sempre teve vontade de estudar direito, mas ao longo da vida, decidiu ir para a área de gestão de pessoas. Hoje é coordenadora de RH no Colégio Santa Dorotéia. Ela adora o que faz, mas quando a filha decidiu se matricular, ela pensou: “Vou entrar. Não quero ser aquela mãe que, quando a filha cresce e sai de casa para viver a vida dela, fica em casa sem uma ocupação", conta Dirce.

Já Clara decidiu cursar Direito porque vários familiares fizeram essa escolha e “se deram bem”. As duas moram juntas e disseram que, apesar da rotina corrida, que não permite que elas se vejam muito, uma tira dúvidas da outra sobre as matérias, estudam, comentam sobre as avaliações e professores. Juntas.

As discussões acadêmicas não param quando elas passam pela porta de casa: “Conversamos muito no dia a dia, as matérias são as mesmas. Às vezes, percebemos alguma coisa que a gente estudou durante a rotina e conversamos ou trocamos mensagens” disse Clara.

À frente de seu tempo

Maria Dirce é de Buenópolis, no Norte de Minas. Ela é de uma família de 12 irmãos. A avó de Clara é uma senhora de 93 anos. Segundo Dirce, vem da sua genitora parte dessa ousadia que envolve ingressar numa faculdade na terceira idade e encarar a maternidade depois dos 40: “Ela é maravilhosa, uma mulher muito ativa, guerreira. Acho que esse espírito que eu tenho de correr atrás das coisas, de querer estar sempre um passo à frente do meu tempo, eu herdei isso da minha mãe e acho que Clara também. A Clara é uma menina que não tem medo de arriscar. Ela tem vários projetos para a vida dela”, afirma.

Falando em se impor, a Maria Dirce em sala de aula não se permite ficar com alguma dúvida. Ela se considera ativa e está sempre fazendo perguntas aos docentes. Apesar de considerar o curso difícil, a estudante quer cada vez mais conhecimento e se diz perfeccionista: “Quero sempre fazer o melhor, eu corro atrás de nota, eu não quero uma nota baixa e sofro demais quando eu tiro uma nota baixa”, brinca.

A coordenadora do curso conta que o caso das duas é incomum. Em 15 anos de profissão, ela nunca tinha presenciado essa diferença transgeracional entre os alunos. Muitos anos atrás, ela relata que uma mãe disse que iria se matricular com o filho, mas quem acabou ingressando na faculdade foi apenas ele.

Os mais jovens “enxergam” os mais velhos em sala como referências, segundo Ana Luisa. Seja pela ousadia, coragem, seja pela experiência, maturidade e muitas vezes até leveza. Ela disse que a relação entre os jovens e os mais velhos é uma via de mão dupla.

“Eu e outras pessoas que trabalham na Milton Campos sempre falamos do quanto que é bom viver com essa geração. Eles despertam isso: essa vontade de viver, uma energia que muitas vezes também falta pra gente”, elogia.

Para Dirce, a experiência tem sido bem agradável. Ela foi acolhida e até passeia com os colegas vez ou outra.

Relação entre mãe e filha

Mas quem realmente a acolheu na decisão de ser universitária foi a filha: “Eu fui a primeira a incentivar minha mãe. Clara relembra que num primeiro momento, Maria Dirce ficou na dúvida se deveria fazer o curso. Contrariando alguns parentes que disseram para a Dirce que era melhor “deixar para lá”, a filha apoiou.

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"Algumas pessoas disseram ‘ah, é loucura, você já faz muita coisa’ e tal. E eu, pelo contrário, eu encorajei bastante. Desde criança eu escutava a minha mãe falando que era o sonho dela fazer Direito”, justifica.

Quando perguntada sobre a relação entre as duas, para além da relação de “colegas de faculdade”, Clara relatou que não costuma se declarar para a mãe no dia a dia, mas resolveu se abrir desta vez, deixando a mãe emocionada: “Eu a admiro muito, eu a vejo como uma guerreira, uma mulher incrível. Ela tem o gênio forte, assim como eu, mas é muito carinhosa”, conta.

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