Celebração da Páscoa em Lagoa Santa tem café da manhã com produtos da roça
Sem chocolates e coelhinhos, missa na comunidade da Lapinha reuniu moradores e visitantes em um encontro de comunhão de fé em Cristo vivo
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Siga noEra pouco antes da 9h da manhã, quando uma grande mesa começava a ser montada na comunidade Nossa Senhora do Rosário da Lapinha, em Lagoa Santa. Roscas, pães caseiros, biscoitos de polvilho e milho, frutas, sucos orgânicos e café foram servidos no banquete deste domingo (20/4) para celebrar a comunhão de todos os fieis e amigos, no Café da Páscoa – um momento simples, mas cheio de significado na semana santa.
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Ao invés dos tradicionais ovos de Páscoa, com toda aquela variedade de chocolates, o café da manhã foi servido com a simplicidade dos produtos feitos por quitandeiras que, há de mais de 60 anos, produzem delícias caseiras, feitas em fogão a lenha, como todo sabor inconfundível das matriarcas e cozinheiras da Rota das Doceiras da Lapinha
Igreja viva
O padre Luiz Gustavo, da paróquia São Paulo Missionário, em Lagoa Santa foi quem celebrou a missa na quadra esportiva da região da Lapinha, se emocionou ao lembrar da importância do dia, quando os cristãos comemoram a ressurreição de Jesus: “Depois da caminhada da Quaresma e da grande alegria da Ressurreição do Senhor, reunimo-nos como irmãos para celebrar a vida, a fraternidade e o amor que nos une em Cristo. Este café partilhado é sinal da nossa comunhão, da nossa amizade e do desejo sincero de viver uma igreja próxima, acolhedora e cheia de esperança. Hoje é um dia especial para a nossa comunidade! Com o coração cheio de fé e alegria, vamos nos reunir para celebrar a Santa Missa em praça pública, proclamando ao mundo que Cristo vive entre nós!”
Padre Luiz Gustavo destacou a importância da celebração, como a de hoje, ter acontecido em outro local fora da pequena Capela de N. S. do Rosário, que poderia não comportar tanta gente. “ Sair do templo e ir ao encontro do povo é o gesto de uma Igreja Viva, missionária e acolhedora. Celebrar ao ar livre é levar a luz do Evangelho para o coração da cidade, testemunhando a esperança, o amor e a unidade que brotam da Eucaristia”, observa
Parceria
O Café da Páscoa dá início a uma proposta de oferecer, todos os domingos, lanches saborosos aos fiéis que participarem das missas comunidade Nossa Senhora do Rosário da Lapinha. Sobre a Rota das Doceiras, patrimônio imaterial de Lagoa Santa, padre Luiz Gustavo festejou o encontro: “cada xícara servida, cada pão repartido, cada sorriso trocado… tudo isso é expressão concreta da Páscoa vivida em comunidade! A Rota das Doceiras é uma tradição na cidade e sempre caminharemos juntos e será um privilégio termos essa parceria.
Rota das Doceiras
Dona Lôra, Beth, Cássia, Vanessa, Fiota, Fiotinha e Dona Roxa são nomes já conhecidos de muitos moradores de Lagoa Santa, principalmente quem já degustou alguma iguaria das quitandeiras da região da Lapinha. Quem já provou os famosos doces de leite, de pau de mamão, de jabuticaba, goiaba ou pequi já ouviu falar dessas mulheres guerreiras. Recentemente, com a criação da Rota das Doceiras, seus bolos, roscas, pães, compotas, geleias e suspiros foram projetados, merecidamente, ao estrelato.
A Rota das Doceiras da Lapinha é uma das atrações que compõem o cenário turístico da cidade de Lagoa Santa. O projeto é uma iniciativa das produtoras de doces do Bairro Lapinha, e apoiado pela Secretaria Municipal de Bem Estar Social – Diretoria de Turismo e Cultura, além de ser fortemente abraçado pela sociedade lagoa-santense. A produção dos doces é inventariada e registrada como patrimônio imaterial da cidade.
O ofício da produção de doces e quitandas da região da Lapinha em Lagoa Santa é uma tradição centenária que exalta a identidade e cultura regional, sendo um dos ícones de maior destaque no cenário cultural e turístico do município. Essa tradição envolve a transmissão dos saberes tradicionais entre as diversas gerações ao longo do tempo, tendo as mulheres da região como principais fontes de propagação e perpetuação dessa memória.
A Rota das Doceiras se constitui na organização de um roteiro turístico, com o mapeamento dos domicílios de diversos produtores locais. Nesse roteiro é possível visitar os produtores locais, acompanhar e conhecer um pouco mais a respeito da produção de doces, quitandas e artesanatos da região da Lapinha. Além disso, a Rota se propõe a desenvolver feiras e eventos culturais para impulsionar a divulgação e comercialização de seus produtos.
Nova geração
Os saberes passados de mãe para filhas e filhos é o que faz com que o modo de fazer os doces se perpetue. E nessa nova geração de doceiras se destaca a Ana Cristina, também conhecida como 'Fiotinha', que está na terceira geração de doceiras da família. A história da família dela com o doce, começa na Fazenda Samambaia, por volta da década de 1940, onde a avó paterna, conhecida como Dona Lúcia trabalhava como doceira. Ela fazia goiabada, doce de frutas como laranja da terra e doce de leite.
De acordo com 'Fiotinha', a avó foi a pioneira na feirinha da Gruta da Lapinha. “ Ela vendia seus doces para os turistas e abriu as portas para outros moradores da comunidade e inclusive é onde eu trabalho hoje. Já a minha mãe Sebastiana, conhecida como Fiota, assim que se casou com o meu pai, começou a ajudar a sogra nesses preparos e se apaixonou pelo processo. Ela fez inúmeros cursos para aperfeiçoar e desenvolveu seus próprios sabores, como: doce cristalizado de cenoura, tomate cristalizado, doce de leite com canela (a famosa queimadinha que tomamos no inverno). Para mim, é uma honra dar continuidade a esse legado tão importante para a minha família e para a cidade. O doce mineiro resgata memórias afetivas, tem sabor de infância. Eu amo proporcionar essas lembranças às pessoas”.