Pesquisas mostram que até 68% dos usuários regulares de cannabis apresentam diminuição da ativação cerebral, o que afeta particularmente o processamento cognitivo. O uso excessivo está associado à redução da atividade cerebral em tarefas de memória.
Nova pesquisa envolveu cerca de 1 mil jovens adultos e descobriu que o uso excessivo de cannabis ao longo da vida está ligado à diminuição da ativação cerebral, especialmente durante tarefas que exigem memória de trabalho – capacidade cognitiva que nos permite trabalhar com informações sem perder o controle do que estamos fazendo.
Leia Mais
A memória de trabalho é usada quando você se lembra de um número de telefone enquanto tecla, calcula mentalmente a conta enquanto faz compras, acompanha várias etapas da receita enquanto cozinha, mantém o nome de uma nova pessoa em mente durante a conversa.
Publicado no Jama Network Open, o estudo se baseou em dados do Human Connectome Project, que incluem resultados de ressonância magnética e do uso de cannabis autorrelatado por pessoas de 22 a 36 anos.
São considerados usuários pesados os jovens adultos que recorreram à cannabis mais de 1 mil vezes ao longo da vida. Quem a usou de 10 a 999 vezes é usuário moderado; menos de 10 vezes, não usuário.
A ativação cerebral reduzida sugere potenciais efeitos de longo prazo do uso de cannabis no processamento da memória, de acordo com o primeiro autor do estudo, Joshua Gowin, professor de radiologia na Faculdade de Medicina da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos.
O professor alerta que os efeitos da redução da ativação da memória de trabalho podem ser duradouros. Essas regiões do cérebro desempenham papel importante na maneira como combinamos nossos sentimentos com nossos pensamentos, especialmente ao tomar decisões, interagir socialmente e gerenciar emoções.
“Ainda há muitas perguntas sobre como a cannabis afeta o cérebro”, diz Gowin. “Estudos amplos e de longo prazo são necessários para entender se esse uso altera diretamente a função cerebral, a duração desses efeitos e o impacto em diferentes faixas etárias.”
Pesquisas anteriores já haviam associado a planta a um quadro psiquiátrico grave. Sobre a relação entre cannabis e outros transtornos de saúde mental, o doutor Matthew Sherman, chefe de psiquiatria ambulatorial do Stony Brook Medicine, diz que, com base em sua experiência, o uso concomitante de cannabis com transtornos de saúde mental é prevalente e frequentemente afeta negativamente os resultados do tratamento.
O estudo também sugere que se abster de cannabis antes de realizar uma tarefa cognitiva pode melhorar o desempenho.
O professor Joshua Gowin observa que a abstinência tem suas próprias consequências.
“As pessoas precisam estar cientes de sua relação com a cannabis, pois a abstinência abrupta pode prejudicar a cognição. Usuários pesados podem precisar ser mais cautelosos”, alerta o especialista.